sábado, 8 de agosto de 2009

REPÚBLICA IANOMÂMI por Léo Fonseca e Silva (in Memoriam)

image

Léo Fonseca e Silva

(in memoriam)

Professor de Estudos Políticos do Brasil na Escola Teológica da Congregação Beneditina do Brasil, no curso de Filosofia,

Mosteiro de São Bento - Rio de Janeiro.

(Artigo publicado aos 09/12/93 no Jornal do Commercio, na coluna Opinião)

"Hoje, 1º de Janeiro de 2002, a República Ianomâmi completa seu primeiro ano de existência.

Foi, sem dúvida, uma feliz coincidência que a independência dessa jovem nação tivesse sido proclamada no primeiro dia do nosso século. Um novo estado soberano! No primeiro dia!

O presidente do governo provisório, Charles Dunbar, nascido em Connecticut e naturalizado ianomâmi no próprio dia da proclamação da independência, prometeu eleições livre daqui a dois anos, no máximo, para uma assembléia constituinte. O vice-presidente, Karl Helmut von Kreutz, um dos grandes defensores dos interesses ianomâmis, é alto funcionário da Baden-Warburg Willemit, já naturalizado também.

Dos dezoito ministros e membros principais do governo, só um Akatoá é ianomâmi nato; ele ocupa o cargo de secretário particular do presidente, embora seja analfabeto.

Os Estados Unidos, coerentes com o Princípio da Auto-Determinação dos Povos, reconheceram o novo estado soberano apenas dois dias após a solene proclamação da independência.

O Reino Unido, a França e a Alemanha logo seguiram seu exemplo, colocando assim a jovem república no rol das nações livres do mundo.

O Brasil e a Venezuela, que ocupavam ilegalmente o território antes da independência, bem que tentaram reagir. O governo brasileiro chegou a deslocar para a área um pequeno contingente de tropas, mas a falta de preparo e a insuficiência de apoio logístico praticamente inviabilizaram o emprego dessa força. A Venezuela nem chegou a tentar uma reação séria.

Aliás, os dois países, minados pela corrupção e pela desorganização interna, sequer conseguiram ensaiar uma estratégia conjunta.

A pífia reação dos antigos donos da área, que eles chamavam a reserva ianomâmi, veio mais uma vez demonstrar a incapacidade dos países do Terceiro Mundo em administrar suas riquezas naturais sem o auxílio da tecnologia e dos capitais do mundo desenvolvido. No caso do Brasil é evidente e isso tem sido objeto de debates em todos os parlamentos europeus e no Congresso dos Estados Unidos, a incompetência do governo para cuidar sozinho da Amazônia; essa imensa área é uma da últimas que restam para uma expansão inteligente e controlada dos excessos populacionais do mundo, especialmente dos países que tem um alto nível de vida e que não podem logicamente sacrificar suas populações. A internacionalização da Amazônica é uma necessidade do mundo livre e deve ser levada a cabo o mais rapidamente possível, em que pesem as arcaicas alegações de soberania feitas pelo Brasil e demais países da área.

Sem saber exatamente a extensão da ameaça representada pelos governos imperialista do Brasil e da Venezuela, a República Ianomâmi apelou para a ONU, onde encontrou a melhor receptividade. O Conselho de Segurança apressou-se em pedir a alguns países de boa vontade o rápido envio de força militares para conter uma possível ameaça à independência da jovem nação.

Os Estados Unidos mandaram uma força de 1.300 para-quedistas, apoiados por artilharia e um número não revelado de aeronaves. A Grã-Bretanha enviou 800 escoceses e 300 gurkhas comandados pelo general Inglês Sir John Bradford. A França mandou uma companhia da Legião Estrangeira.

Todas essas forças foram deslocadas por via aérea no curto espaço de três dias, dissuadindo qualquer ação mais séria, se isso fosse possível, dos governos brasileiro e Venezuelano.

Um hábil bloqueio diplomático, feito pelos países do Primeiro Mundo, impediu que os dois estados imperialistas obtivessem qualquer forma de apoio junto a países africanos ou asiáticos, muitos dos quais já passaram pela situação de dominação colonial e, por isso mesmo, compreenderam o problema Ianomâmi.

É pois, motivo de glória e satisfação para todos os povos amantes da liberdade a consolidação da jovem nação.

Há, sem dúvida, um longo caminho a percorrer, mas o futuro do novo estado parece garantido. O ministro da Mineração, Edward Keene Low, já contratou inúmeros geólogos mineralogistas para fazer um inventário do subsolo, que se supõe ser muito rico. A Bowen & Bethlem Mineral Ressources, a Canadian Iron Co. e a Grove Industries Inc. já instalaram seus escritórios no país; muitas outras empresas francesas, britânicas, alemãs, norte-americanas, japonesas e de outros países já manifestaram ao governo Ianomâmi sua intenção de colaborar no progresso desse futuro país. Os Ianomâmis têm agora a certeza de um belo porvir".

A notícia que você acabou de ler poderá sair em qualquer jornal do Primeiro Mundo. Assim se escreve a História! Um presidente jovem, irresponsável e mal assessorado, contra a opinião de juristas e das Forças Armadas, criou um problema que, até agora, ninguém soube resolver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário