domingo, 7 de junho de 2009

VEJA 1 - Eis o PAC, que batizei de “pactóide” logo no primeiro dia

VEJA 1 - Eis o PAC, que batizei de “pactóide” logo no primeiro dia

sábado, 6 de junho de 2009 | 6:37

Escrevi algumas dezenas de vezes neste blog que ”o PAC não existe”, como vocês sabem muito bem. Meu argumento: o que temos são obras que, com efeito, devem ser executadas por governos. Este em curso, no caso, chamou para si os investimentos de estatais e os investimentos privados e meteu tudo debaixo da mesma rubrica: PAC. Reclamava que a imprensa não se dedicava a um exame detido do programa. VEJA dedicou-se a tal tarefa, conforme informa a Carta ao Leitor:

“A análise clara e independente do plano pode ser encontrada nesta edição de VEJA. Sob o comando do editor Fábio Portela, uma equipe de quatro repórteres percorreu, de carro, 8 500 quilômetros para visitar 48 municípios, em catorze estados. O trabalho em campo foi complementado por um mergulho nos números do orçamento federal relativos ao PAC. São informações restritas. A reportagem de VEJA teve acesso a elas graças à ajuda da ONG Contas Abertas, autorizada por congressistas a fazer pesquisas na base de dados do programa.”

A revista avalia que existe um PAC, mas nestas condições, devidamente condensadas na carta:

“Até o momento, o plano tem um alcance bem menor do que o alardeado pelo governo. De acordo com o levantamento feito por VEJA, somente 30% das obras de grande envergadura estão no ritmo previsto. A ser mantido o atual nível de investimentos, 70% delas estarão com o cronograma atrasado ao fim do mandato do presidente Lula. “

Sendo assim, cabe perguntar: se, com a existência de um “programa de aceleração”, apenas 30% das obras de grande porte estão no ritmo previsto, como seria sem a aceleração?

Vale a pena ler o detido trabalho coordenado por Portela. Você terá acesso a informações como estas:
- “a parcela do PAC efetivamente paga pelo governo é minúscula. O programa, lançado em 2007, contempla investimentos de 646 bilhões de reais, que deveriam ser realizados até o fim do ano que vem. Em dois anos e meio, o governo desembolsou, por meio do Orçamento da União, apenas 22,5 bilhões de reais, ou 3,5% do total.”;

- ” No capítulo de ferrovias, por exemplo, há projetos maravilhosos, como o do trem-bala que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro; o da Nova Transnordestina, que cortará a Região Nordeste; e até o de um “corredor ferroviário bioceânico”, que ligaria Santos, no litoral paulista, a Antofagasta, no Chile, cruzando a Cordilheira dos Andes. Mas a realidade é menos pujante: o trem-bala ainda não foi licitado, a Transnordestina não tem um metro de trilho colocado e o trem bioceâ-nico ainda tem a consistência de um sonho”

- “No eixo Social e Urbano, a joia é a transposição do Rio São Francisco, que levará água de forma perene ao sertão nordestino. Apesar de todo o barulho, a obra vem recebendo menos dinheiro do que deveria. Como apenas 12% dos recursos chegaram ao canteiro, a multiplicação das águas deve ficar para bem depois de 2010. A permanecer o ritmo atual, serão necessários quinze anos para finalizar o trabalho.”

Ah, então nada está acontecendo? Está, sim. A questão é saber se não estaria caso o PAC se chamasse PIC, PEC ou POC. Informa revista:
“o segmento que progride mais solidamente é o eixo de Energia. Não por coincidência, esse grupo de ações não tem um centavo investido diretamente pelo governo. O grosso do dinheiro vem da Petrobras, que desde 2007 já colocou na construção de plataformas de exploração de petróleo, refinarias e gasodutos algo em torno de 86 bilhões de reais. A estatal, que responde sozinha por 28,5% do programa, é a verdadeira mãe do PAC. É saudável que a maior empresa do país invista fortemente em infraestrutura, mas é preciso destacar que esses projetos seriam completados mesmo que o PAC não existisse.”

Não deixe de ler a reportagem, recheada de dados os mais objetivos e contas muito interessantes:
- os 1.434 quilômetros de trilhos entre Tocantins e São Paulo, previstos para 2011, no atual ritmo, serão entregues daqui a 18 anos;
- a construção e remodelação de 2.278 quilômetros de trilhos em Alagoas, Pernambuco, Ceará e Piauí, previstos para dezembro de 2010, na atual batida, ficarão prontos em 2033…
- dado o andamento, a drenagem e implantação do sistema de segurança do Porto de Itaguaí, no Rio, serão concluídos em 89 anos;
- a perfuração e construção do sistema de extração do Sistema Piloto de Tupi (pré-sal), com conclusão prevista para julho de 2011, pode levar, no atual ritmo, 998 anos.

Sem dúvida, Lula é um homem que pensa nas gerações futuras. E nos governos futuros também. Não custa lembrar que, achando que o PAC 2006-2011 já estava resolvido, ele chegou a falar em fazer um PAC 2011-2015. Procurem nos arquivos para ver. É o chamado Plano de Aceleração da Conversa Mole.
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Por Reinaldo Azevedo

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