domingo, 7 de junho de 2009

Traquinagens do caçula Minc

Enviado por Vitor Hugo Soares -

6.6.2009
| 13h55m

artigo
Traquinagens do caçula Minc

Da Guatemala, no começo da semana, o presidente Luis Inácio Lula da Silva passou de público um pito de “pai” incomodado com a algazarra aprontada em sua ausência pela “filharada” no Brasil. A turma abrigada no ministério fica mais indócil e malcriada à medida que 2010 se acerca e quem mais tem aporrinhado ultimamente é o caçula, Carlos Minc, do Meio Ambiente. O garoto ladino, porém, parece ter percebido o perigo da língua sem controle disparando “nomes feios” para todo lado e nos últimos quatro dias têm-se desdobrado em artes e manobras para obter o perdão paterno e dos “irmãos” de governo.

Talvez seja tarde, mas Minc faz movimentos para passar a imagem de que é daqueles que não desistem com facilidade. Nem mesmo diante das maiores armadilhas e apertos que o poder costuma aprontar. Assim, tratou de correr para o colo do “pai”, logo que este desembarcou de volta em Brasília.Na quinta-feira mesmo recebeu as palmadas e as reprimendas pessoalmente e tornou-as públicas sem pejo, em mensagem dirigida principalmente aos manos que, a exemplo dos ruralistas, querem lhe comer o fígado e manda-lo de volta para os braços dos verdes do Rio de Janeiro.

Mas o ministro do Meio Ambiente foi em seguida ao Congresso com a atiradeira em punho e fez novos disparos na cabeça dos ruralistas e seus aliados na oposição ao governo do pai. “Saí mais forte do que nunca”, proclamou Carlos Minc depois da conversa reservada com o presidente. Pelas aparências, tudo indica que sim. “Os ruralistas estão desesperados e querem me tirar, mas vou com o presidente Lula até o último dia de seu governo”, gritou para os repórteres que o esperavam á saída do Congresso.

Dia seguinte, nesta sexta-feira, 05 de junho, sorridentes “pai” e “filho” (mais o governador petista Jaques Wagner), desembarcaram juntos em Caravelas, na chamada Costa do Descobrimento, pedaço mais que paradisíaco do litoral da região sul da Bahia. Ali o governo Lula e o governo baiano comemoraram o Dia Mundial do Meio Ambiente, com a assinatura do decreto que cria a reserva de Cassarubá, projeto sustentável para famílias de pescadores e catadores de mariscos, menina dos olhos da administração federal e das ONGs ambientalistas desde o tempo da ministra Marina Silva. O projeto de proteção ambiental, no entanto, enfrenta criticas e reações severas de grandes empresários do turismo e da hotelaria, que têm projetos bem diferentes para a área de praias e recantos de tirar o fôlego à beira do Atlântico entre os municípios de Caravelas e Nova Viçosa.

Quando a semana começou a sorte não sorria assim para o ministro Carlos Minc.Não tanto - agora se sabe depois da conversa com Lula - pelo que ele aprontou no palanque do ato público realizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), na sensível Esplanada dos Ministérios, em Brasília.Com boné de trabalhador rural e tudo, o ministro chamou parlamentares ruralistas (que os ambientalistas preferem denominar de “bancadas da motosserra”) de “vigaristas”. Gente que, segundo o ministro de Meio Ambiente, “encolheu o rabinho de capeta e agora finge defender a agricultura familiar”.

O ministro do Meio Ambiente, por vontade refletida ou involuntariamente, até tinha um bom gancho (no jargão corrente nas redações) para o ataque: a Semana do Meio Ambiente, com muito pouco ou nada a festejar no País, mesmo pelo mais abnegado militante da causa verde. Mas, mesmo os raros aliados que ainda lhe restam no ministério, estão convencidos de que Minc não poderia ter escolhido um pior espaço geográfico e oportunidade menos apropriada para levar para o meio da rua a algazarra interna entre ministros do governo Lula. Ainda mais na ausência do “pai”, então em viagem pela América Central.

“Tenho muitos filhos, e toda vez que o pai sai de casa a meninada faz algazarra mais que deveria fazer”, disse paternal e complacente o presidente da República, talvez seriamente incomodado com a briga entre “irmãos”, mas sem poder esconder de todo a satisfação íntima com a traquinagem do caçula em relação a adversários ferozes de seu governo. Destes, Minc só livra a cara da ruralista senadora Kátia Abreu (DEM), a quem se dispõe pedir desculpas pessoalmente, “pois além de bonita ela é inteligente”- joga o barro o traquino da “família Lula”.

De volta da costa do sol da Bahia, quando a Semana do Meio Ambiente tiver passado, tudo poderá ser diferente. Apesar das desculpas, no ambiente que Lula controla paternalmente , a portas fechadas, não falta quem da porta pra fora esteja faminto pelo fígado do ministro do Meio Ambiente. Cada vez mais, à medida que 2010 chega mais perto. Tempo eleitoral em que para alguns dos “manos” e adversários de Minc prevalece o ensinamento de Macunaíma: “Agora é cada um por si, e Deus contra”.

Mas esta é outra novela, a conferir nos próximos capítulos.

Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mail:vitor_soares1@terra.com.br

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